Quando neva
no UK a vista é animadora. Tudo branco, pacífico, lindíssimo. É
perfeito, para turistas. Para quem aqui vive é mais como uma
sentença. Todos os anos, em Janeiro, já se sabe, vai nevar. Isto
digo eu, que não vivo aqui assim há tanto tempo, é uma observação
apenas. As pessoas que nasceram aqui e que aqui viveram toda a sua
vida já deveriam saber isto e estar à espera mas surpreendentemente
não. Não há um mínimo de preparação por parte da população e,
por isso e mais uns quantos motivos, o UK torna-se um caos sob neve!
Os autocarros deixam de correr assim que o primeiro flocozinho caí,
os aeroportos fecham, os comboios param. As pessoas que vivem fora
das cidades já não saem de casa por incapacidade de o fazer e mesmo
as que vivem têm dificuldades em fazê-lo. Apesar das estradas
principais serem limpas, as laterais nunca são então só tirar o
carro da garagem torna-se uma aventura no gelo. Ir de bicicleta para
onde quer que seja torna-se um desafio. Portanto com transportes
públicos atrasadíssimos ou sem sequer andarem e com estradas que
são verdadeiras armadilhas resta-nos andar para todo o lado.
Andar na
neve e consequentemente no gelo são ciências complicadas. É
preciso ter-se em conta o calçado e o estado do pavimento. Se a neve
já derreteu e formou aquela pasta negra nojenta ou se entretanto
virou gelo, se vai nevar mais ou se já acabou, se vai chover em vez.
Tudo isto deve ser tomado em conta. Solas rasas e direitas sem muitas
tretas é o melhor. Resulta comigo pelo menos!
Acho que o
mais incómodo, mesmo assim, quando toca a neve é o estado dos
aeroportos. Se estiverem para voar nos dias a seguir a nevar, como
eu estou, preparem-se para a possibilidade de verem o vosso voo ou cancelado ou atrasado.
Sem sombra
de dúvidas é algo de intensamente belo ver Cambridge coberto de
neve mas saber o que daí resulta arruína um pouco a sua beleza.
Neve para mim significa que me movo mais lentamente apesar de estar
mais frio. Um passo em falso e, sem saber bem como, estou no chão coberta
de neve. Quer dizer que durante semanas a fio será assim, que os
números nos jantares todos os dias são diminuídos o que significa
menos trabalho, que não posso contar com nenhum outro meio de
transporte sem ser os meus pézinhos e que é certo que aterro uma ou
duas vezes de rabo no chão. É a época do congelamento, das bolas
de neve sem luvas e dos tremeliques. Nunca me apetece sair de casa
nesta altura mas lá terá que ser. E então aventuro-me pelo meio do
paraíso invernal. Desejem-me sorte!